sábado, 31 de março de 2012

Manifestações obrigam reforço da segurança em Jirau e Santo Antônio.


O dia foi tenso ontem em Porto Velho em decorrência de conflitos registrados nos canteiros de obras de Jirau e Santo Antônio. Revoltados com uma circular emitida por uma das empresas do consórcio responsável pela construção da UHE de Jirau  informando aos trabalhadores que os dias parados seriam descontados teria sido o estopim da revolta de parte dos funcionários do empreendimento. Nas primeiras horas da manhã, grevistas armaram um piquete na entrada da usina impedindo a entrada e saída de funcionários. No canteiro de obras de Santo Antônio também foram registrados momentos de tensão e notícias extra-oficiais informam que a polícia precisou agir para acalmar os ânimos, com o uso de armas não letais. 

O Governo do Estado reforçou o policiamento nos dois empreendimentos com a presença das polícias Militar e Civil, juntamente com soldados da Segurança Nacional e Polícia Federal. Durante a manhã o Gabinete de Gestão Integrada (GGI) decidiu solicitar o emprego das Forças Armadas para garantir a segurança nos canteiros de obras.
Um contingente de aproximadamente 200 homens da PM foi deslocado para as usinas, o que deixou desguarnecidas outras áreas do Estado.  “O Estado de Rondônia não pode ficar prejudicado nas ações de segurança pública, com o emprego de seu efetivo nos canteiros de obras das usinas”, disse o secretário estadual de Segurança, Marcelo Bessa.

TRT

Em nota à imprensa, o Tribunal Regional do Trabalhoi](TR) determinou à à Secretaria de Estado da Segurança, Defesa, e Cidadania do Estado de Rondônia, Superintendência Regional da Polícia Federal e a Delegacia Regional da Polícia Rodoviária Federal que mantenham o efetivo policial necessário para garantir a segurança de pessoas e instalações físicas do canteiro de obras da UHE Jirau.
Em decisão liminar proferida na quarta-feira (28), envolvendo a empresa e o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil do Estado de Rondônia (Sticcero), a Justiça do Trabalho de Rondônia determinou que a entidade sindical se abstivesse de criar obstáculos para o livre acesso e saída no canteiro de obras da Usina Hidrelétrica Jirau, fazer ameaças aos trabalhadores para que parem de trabalhar, praticar atos de vandalismo, tais como atear fogo em veículos ou bens materiais, e incitar o descumprimento da ordem judicial de retorno ao trabalho.

MULTA

O juiz federal do Trabalho Substituto Francisco Montenegro Neto, fixou multa diária de 100 mil reais até o limite de cinco milhões, em caso de descumprimento, como também a possibilidade de prisão do presidente do Sticcero e de quaisquer pessoas, ligadas ou não ao Sindicato, que impeçam o cumprimento da decisão.
No último dia 15, o Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região (Rondônia e Acre) já havia decretado a abusividade da greve nas obras da UHE Jirau, bem como o retorno imediato dos trabalhadores ao trabalho e multa de 100 mil reais, em caso de não cumprimento, o que resta configurado até os dias de hoje.

BARRICADA IMPEDIU ENTRADA E SAÍDA DA USINA

Trabalhadores da Usina Hidrelétrica (UHE) de Jirau, paralisados há mais de 20 dias, impediram a entrada e saída de funcionários do canteiro de obras na manhã de ontem. Os operários, que reivindicam, desde o começo do mês, melhores condições de salário, aumento no valor da cesta básica e plano de saúde, cruzaram os braços na portaria da empresa. Para manter a segurança, e evitar um conflito, como o que ocorreu no ano passado, cerca de 200 homens, divididos entre Policiais Militares (PMs), Força Nacional, Polícia Civil e Polícia Federal, cuidavam da segurança no local.
Jeremias Mendes, delegado da Policia Civil, afirma que uma minoria dos trabalhadores se manifestou na entrada da empresa. “Algumas pessoas ficaram assustadas com a movimentação”, ressalta. Durante toda a manhã o clima permaneceu tranqüilo e com policiamento reforçado. Enquanto os funcionários fecharam a entrada da UHE, uma reunião era realizada na Secretaria Estadual de Segurança, Defesa e Cidadania (Sesdec), para garantir o direito de ir e vir dos funcionários. Às 11h, os trabalhadores que vivem alojados puderam sair e os que retornavam de suas atividades no dia de folga entraram.
    De acordo com Paulo Marcelo Rodrigues de Campos, funcionário da UHE, uma comissão de funcionários foi criada para acompanhar a negociação do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil do Estado de Rondônia (Sticcero) com os responsáveis pela construção de Jirau. “A comissão foi criada no dia 13 desse mês, mas a Camargo Corrêa nunca quis conversar com essa comissão”, garante Paulo. O objetivo da união dos trabalhadores é ficar mais próximo dos colaboradores que vivem alojados em Jirau, atualmente são cerca de 7 mil homens.
Retaliações  

 Paulo também reclama de retaliações feitas por parte da Camargo Corrêa, do consórcio construtor da UHE de Jirau. “Depois que começamos a greve, eles passaram a fazer demissões por justa causa”, garante. Paulo afirma que foi demitido em frente a uma delegacia quando prestava depoimento sobre as ações da greve. “Na terça-feira quando fui depor, tinha três pessoas demitindo todo mundo”, diz. A redação do Diário tentou conversar com a direção do consórcio Energia Sustentável do Brasil mas não teve retorno.

GREVE PREJUDICA CAMINHONEIROS

Mas não são apenas os funcionários que sofrem com a paralisação. Motoristas de caminhões que esperam para descarregar peças no canteiro de obras aguardam há mais de 20 dias por uma resposta. Vantoir Gaspareto veio de São Paulo transportando peças para a usina e espera desde o dia 5 de março para descarregar a mercadoria. “Nós não temos informações nenhuma aqui. Ninguém informa nada com certeza”, diz.
Odair Tendena, que transporta material elétrico, também não consegue descarregar e reclama da falta de informação. Ésio Teixeira e Antônio Marcos Correia juntaram-se para fazer um abrigo com a lona do caminhão. “Enquanto nós não tem resposta temos que nos virar”, diz. Para a higiene um único banheiro serve como apoio para todos os caminhoneiros. Segundo Vantoir, mais de 200 ocupam o pátio da UHE e postos de gasolina de Jacy-Paraná.
A alimentação fica por conta dos próprios motoristas, que até pescam para comer. “A gente vai pescar todo dia, mas compramos comida também”, diz Ésio. Uma viagem, que segundo o motorista, custa em média R$ 12 mil, já sai por mais de R$ 25.

DESCONTO DE DIAS PARADOS GEROU REVOLTA

Para o funcionário de Jirau Paulo Marcelo Rodrigues de Campos, o boletim emitido na quarta-feira pela empresa pedindo para que os colaboradores voltassem às atividades e informando sobre o desconto que eles receberiam, pode ter sido o estopim para o movimento feito na manhã de ontem. “A Camargo Corrêa lançou um boletim pedindo o  retorno das atividades afirmando que não iria pagar os dias parados na greve. Nós queremos negociar os nossos direitos, reivindicar e mostrar o nosso propósito de trabalho”, explica.
Guilherme Valeriano, também funcionário da UHE, afirma que os trabalhadores procuram uma greve pacífica. “Estamos conversando com os colaboradores, mas a Camargo Corrêa se recusa a conversar com a gente. Enquanto eles não negociarem, não disponibilizarem um minutinho para conversar, ninguém vai voltar a trabalhar”, ressalta.
    O presidente do Sticcero, Donizete Oliveira, afirma que a única causa para o motim é a empresa não parar para negociar com os trabalhadores. “Nós sabemos que a greve é ilegal, mas precisamos negociar”, diz. Ainda de acordo com Donizete, cerca de 30% dos trabalhadores não conhecem o sindicato. “O trabalhador da construção civil não sabe nem o que é greve, não sabe o que é data base, o sindicato está aqui para brigar por isso”, garante.
 
REIVINDICAÇÕES

Donizete explica que a pauta de reivindicação exige 30% de reajuste, o aumento na cesta básica de R$ 170 para R$ 510 e um plano de saúde extensivo para as famílias. “Nós temos duas grandes usinas e não foi construído nenhum hospital. As famílias estão desamparadas no plano de saúde”, garante. Em resposta ao pedido do sindicato, segundo Donizete, foi oferecido uma antecipação de 5%, o que não mudaria em nada a vida do trabalhador. “Hoje, nós estamos com o salário defasado há mais de três anos, precisamos de, no mínimo, 8%”, defende.
O presidente também garante que com a criação dessa comissão o sindicato não dividiu-se em dois. A comissão, na visão de Donizete, funciona como uma extensão para o contato com os trabalhadores no canteiro de obras. Ontem, durante a manifestação, nem sindicato nem membros da comissão puderam entrar.
Além dos pedidos em pauta, alguns trabalhadores reclamam de truculência da força policial durante o período de greve. “Eu tenho três amigos que já apanharam”, garante Jualam de Lima Pinto, há nove meses na obra. Um deles é José Barbosa, paraense que está em Jirau há três meses. “Eu desci do ônibus, avisei que tinha esquecido o crachá no alojamento. Pedi para ele [o policial] procurar o meu cadastro no sistema, mas ele se recusou e me agrediu”, diz. José registrou boletim de ocorrência.

TRABALHADORES PEDEM SALÁRIOS ATRASADOS

Do lado de fora do tribunal, há três dias trabalhadores demitidos da usina Jirau,contratados pela empresa WPG ano passado, que não receberam os salários esperavam pela resolução do caso.  Para o acriano Valmiclei Brito, o que os 80 funcionários estão passando desde outubro de 2011 é humilhação. “A minha intenção quando eu vim para Rondônia era buscar recursos para a família, só que agora estamos levando daqui é só decepção. Isso que estamos passando não é vida para um cidadão brasileiro.
O trabalhador Vanderlei da Silva espera que a situação seja resolvida o mais rápido possível. “Gostaríamos que o TRT analisasse com carinho a nossa questão, disse ele que há seis meses não pode trabalhar devido à carteira de trabalho está em aberto. Segundo Valmiclei, os trabalhadores demitidos esperam que as audiências sejam marcadas rapidamente.


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